Tuesday, January 24, 2006

contos ou descontos...

Crescemos a ouvir histórias de príncipes encantados que aparecem em cavalos brancos para salvar jovens donzelas enclausuradas em torres de castelos sombrios, a ver filmes românticos que alimentam todo esse imaginário em que tudo acaba com aquela certeza de felicidade eterna e inevitavelmente acreditamos que a vida será assim.
Andamos sempre em busca dessa felicidade conquistada pelas personagens, essa felicidade tão perfeita que nos faz querer tê-la para nós, e então, crescemos neste universo encantado sonhando que tudo na vida pode atingir esse nível de perfeição o que nos torna seres eternamente insatisfeitos, por muito felizes que sejamos acreditamos sempre que ainda poderemos ser mais. Achamos que ainda não é o suficiente e então abdicamos de pessoas, de oportunidades por considerarmos que ainda haverá uma oportunidade melhor, que aquela felicidade por muito boa que seja ainda não está perfeita. Mas que perfeição é essa se todos os momentos mais felizes que temos surgem na sua maioria de situações pouco perfeitas? Será que a beleza da felicidade está intimamente ligada à perfeição ou será precisamente o oposto? Será que os momentos de maior felicidade têm de ser necessariamente perfeitos? Será essa definição de perfeição tão relativa quanto o conceito de beleza?

1 comment:

el_olive said...

deixo aqui a bela musica de chico buarque que tao bem elucida essa mesma questao...
Tanto amar
Chico Buarque/1981

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita
Tem um olho sempre a boiar
E outro que agita

Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E outro olho a me arregalar
Sua pepita

A metade do seu olhar
Está chamando pra luta, aflita
E metade quer madrugar
Na bodeguita

Se seus olhos eu for cantar
Um seu olho me atura
E outro olho vai desmanchar
Toda a pintura

Ela pode rodopiar
E mudar de figura
A paloma do seu mirar
Virar miúra

É na soma do seu olhar
Que eu vou me conhecer inteiro
Se nasci pra enfrentar o mar
Ou faroleiro

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela acredita
Tem um olho a pestanejar
E outro me fita

Suas pernas vão me enroscar
Num balé esquisito
Seus dois olhos vão se encontrar
No infinito

Amo tanto e de tanto amar
Em Manágua temos um chico
Já pensamos em nos casar
Em Porto Rico